terça-feira, 30 de julho de 2013

Revelação da flora nacional

Novo volume da coleção ‘Espécies arbóreas brasileiras’ traz descrição detalhada de 60 espécies de importância econômica, silvicultural, botânica e ecológica. Obra destina-se tanto a profissionais de áreas afins quanto ao grande público.

Por: Sofia Pereira


‘Aspidosperma pyrifolium’ (pereiro). A espécie, que não tolera baixas temperaturas, ocorre principalmente nas regiões Nordeste e Centro-oeste, com presença marcante também em Minas Gerais. (foto: Paulo Ernani Ramalho Carvalho)


A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou recentemente o quarto volume da coleção Espécies arbóreas brasileiras, do engenheiro florestal Paulo Ernani Ramalho Carvalho. Mais uma vez (os outros três volumes da coleção também foram escritos por Carvalho) o autor coloca à disposição do leitor seu profundo conhecimento da flora arbórea que compõe o ambiente florestal brasileiro.

Em levantamentos quantitativos sobre a vegetação brasileira, já foram catalogadas até o momento cerca de 7.800 espécies arbóreas. Um número que põe o Brasil no topo das nações do planeta com maior biodiversidade florestal
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Capa do volume 4 da coleção 'Espécies arbóreas brasileiras'.

Com o objetivo de resgatar e democratizar o conhecimento de parte dessa riqueza, Carvalho se entregou ao empreendimento hercúleo de descrever detalhadamente 340 espécies arbóreas. Um desafio que exigiu nada menos que 40 anos de dedicação ao estudo da flora nacional.

“O eixo embrionário para a criação da coleção surgiu em 1980 com a elaboração, em máquina de escrever, das fichas silviculturais de A a Z das espécies”, lembra o autor. Cada livro da coleção descreve 60 árvores, à exceção do volume 1, que descreve 100. Outras 60 espécies já definidas vão compor o volume 5, cujo lançamento está previsto para o final de 2012.

Carvalho conta que, ao planejar a coleção, uma de suas preocupações foi estabelecer critérios para selecionar as espécies dos volumes. Cada um deveria abranger os seis biomas continentais e as 27 unidades da federação, além de apresentar conotação latino-americana, já que muitas espécies ocorrem também no México, América Central, Caribe e América do Sul.

“Decidi escolher, por volume, uma espécie de cada uma das principais famílias botânicas e de cada um dos grandes gêneros brasileiros”, explica Carvalho. As espécies foram escolhidas também por sua importância ecológica, econômica e silvicultural. Nesse último critério, o autor considerou árvores de crescimento rápido ou moderado, que produzissem madeira nobre e tivessem uso múltiplo.

O livro, ricamente ilustrado com fotos e mapas, é um importante suporte para instituições e programas de conservação e recuperação de áreas degradadas. Embora o público-alvo da coleção seja engenheiros florestais, agrônomos, biólogos, paisagistas e estudantes dessas áreas, ela se destina também a ambientalistas, ruralistas, empresários da indústria madeireira e ao grande público.

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Licania rigida' (oiticica), espécie endêmica do Nordeste brasileiro. A farta sombra dos oiticicais servia de abrigo temporário a viajantes e tropeiros. (foto: Paulo Ernani Ramalho Carvalho)
Informações atualizadas

As informações sobre as espécies apresentadas em cada livro da coleção foram obtidas a partir de extensa revisão bibliográfica, que incluiu a leitura e análise de aproximadamente 1.500 trabalhos por volume. As fotos são do autor e de vários colaboradores, uma vez que há espécies de todos os estados brasileiros.

A elaboração dos mapas das áreas de ocorrência natural das espécies só foi possível graças ao banco de dados construído durante a carreira do autor, que já se aposentou. Não é de espantar, portanto, que cada volume tenha levado em média três anos para ser concluído. Os mapas foram editados pelo setor de geoprocessamento da Embrapa.
O diferencial da coleção são os mapas de ocorrência natural e os dados climáticos e de crescimento

Carvalho conta que a reação dos leitores aos volumes anteriores (publicados em 2003, 2006 e 2008) foi de surpresa, devido às informações não tradicionais e atualizadas, como nomes científicos novos, nova classificação botânica e estados com ocorrências ainda não citadas.

Frente ao cenário atual do conhecimento na área, o diferencial da coleção, segundo o autor, são os mapas de ocorrência natural, os dados climáticos e de crescimento, além das informações inéditas incorporadas à descrição das espécies.

Quanto ao quarto volume especificamente, o principal destaque é a documentação da espécie Dalbergia cearensis, popularmente denominada violeta. Como o nome científico indica, foi originalmente assinalada no Ceará, e sua belíssima madeira é mundialmente conhecida por King Wood (madeira dos reis).

Corte transversal do tronco de 'Dalbergia cearensis' (violeta). A madeira da espécie, quando usada como lenha, libera aroma agradável, que lembra o cravo-da-índia. (foto: José Rabelo)

Das espécies descritas nesse volume, também merecem destaque, além dos conhecidos jacarandá e quaresmeira, o buriti-palito, o cedro-vermelho, a oiticica, a falsa-pelada, a farinha-seca e o pau-de-balsa (a madeira mais leve que se conhece).

O volume 5 da coleção Espécies arbóreas brasileiras, que já tem data de lançamento prevista, resultará de uma parceira entre a Embrapa Informação Tecnológica (Brasília-DF) e a Embrapa Florestas (Colombo-PR), também responsáveis pela edição dos demais volumes.

O autor adianta também que já dispõe de material para mais sete volumes (do 6 ao 12). Como cada um terá 60 espécies, teremos no futuro 420 novas espécies descritas na coleção. Estas, somadas às 340 já preparadas, perfazem um total de 760 espécies.

É um número pequeno, se considerarmos que já foram catalogadas no país até agora quase 8 mil espécies arbóreas. Mas, sem dúvida, é um ótimo começo.


Espécies arbóreas brasileiras (volume 4)
Paulo Ernani Ramalho Carvalho
Brasília/Colombo, 2010, Embrapa
Sofia Pereira
Revista Ciência Hoje

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